quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Presidente ou Presidenta?

    Estamos presenciando nos últimos tempos as mudanças sociais que definiram uma nova realidade democrática firmada, com efeito, por meio de uma perspectiva político-social elencada pela administração político-partidária dita de esquerda.
     Com essas mudanças os climas se acirram. Há aqueles que insistem em se manterem avessos aos fatos e, comumente, criticam de forma contundente e muitas vezes discriminatórias os seus desafetos por questões preconceituosas e ideológicas. Mas o que eu gostaria de tratar aqui é da discussão criada em torno dos termos “presidente” e “presidenta”.
  Depois do discurso de posse da primeira mulher no Brasil a alcançar o maior cargo político da nação, alguns críticos trouxeram, novamente, à tona questões ligadas à ciência da linguagem, a linguística, e voltaram a apontar os ditos “erros de português” na fala de quem fala português. Agora a vítima é a presidente (ou presidenta) Dilma.
Antes, gostaria de ressaltar a importância de se discutir tal assunto, tendo em vista o preconceito claro e evidente que existe por trás dos discursos dos gramáticos de plantão, sempre prestes a exercerem uma ditadura linguística no país.
Em primeiro lugar, ressalta-se que a língua é dinâmica e não estática. Não somos papagaios para está reproduzindo sempre a mesma coisa. O espaço onde nos encontramos permite a utilização de uma expressão ou outra, uma forma linguística ou outra. Questões como a concordância verbal é importante, mas não podemos esquecer que são padronizadas.
No dia seguinte à posse de Dilma, um comentarista da Jovem Pan (online) fez questão de observar alguns “erros de português” cometidos pela nossa presidente. Ele nos chamava a atenção para a fala da presidente no momento que ela tecia elogios ao já então ex-presidente Lula, tais como:

“... tive o previlégio de sua convivência, em vez de privilégio” e “ter aprendido com sua sabedoria são coisas que se guarda em vez de coisas que se guardam”. Essas são algumas de suas críticas.

Sabe-se, no entanto, que a gramática normativa é prescritiva e não traduz a língua em uso no Brasil, de modo que a fala ali reproduzida reflete a língua portuguesa despretensiosa e viva na linguagem do povo brasileiro. 
O primeiro erro apontado se dá devido à aproximação de duas vogais que compartilham fonologicamente da mesma função em posição pré-tônica, formando encontros consonantais. 
O outro caso seria a concordância do verbo “guardar” com o sujeito “coisas”. Tal fato, contudo, não comprometeu a mensagem. A padronização, elencada pela norma culta, prescreve a harmonização do sujeito com o verbo. No entanto, é natural a acomodação da própria língua em uso, de modo a tornar dinâmica a comunicação. Afinal, se o plural já está marcado no sujeito, repetir a marca de plural no verbo, ou vice-versa, seria redundância. 
Vale salientar que a norma padrão é importante sim! Mas não podemos nos tornar escravos da norma. Há determinados casos que a não observação da gramática normativa pode tornar um texto truncado, sem entendimento. Por isso mesmo, devemo-nos ater a determinadas padronizações na escrita.
Voltando às críticas do jornalista em questão, ele se apresentava como fazendo parte da elite brasileira e referia-se a esse e a outros fatos, ligados à língua em uso, ao desprezo (pronunciado disprezo) à língua portuguesa por parte de muitos intelectuais do Brasil, entre eles a própria presidente Dilma e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ambos formados em nível superior.
Com todo o respeito ao senhor que faz parte da “elite brasileira”, como mesmo disse, acho que desprezo à língua portuguesa seria se o discurso da presidente fosse proferido em inglês ou outra língua qualquer. O jornalista-professor da Jovem Pan online dizia que frequentou todos os cursos, realizados por ele desde o ensino fundamental até frequentar a faculdade, sem saber português - que ele mesmo pronuncia “purtuguês”. Seria interessante perguntar-lhe que língua ele falava.
Isso estaria de certo modo ligado ao ensino mecanicista pelo qual "todos nós" fomos vítimas neste país, tanto por parte desse senhor, que faz parte da elite, quanto por nós que não fazemos -além de ser um reflexo do preconceito linguístico que assola o Brasil, talvez até por desconhecimento da própria história da língua portuguesa. Como diria Marcos Bagno (2002):

“O preconceito lingüístico está ligado, em boa medida, à confusão que foi criada, no curso da história, entre língua e gramática normativa (...) Uma receita de bolo não é um bolo, um molde de vestido, não é um vestido, um mapa-múndi não é o mundo... Também a gramática não é a língua”.

E a presidenta?
Outro fato interessante seria àquele relacionado ao uso da forma “presidenta”. Nesse caso, sim, há um certo preciosismo e até uma tentativa de ligar o nome “presidente” a uma característica ou atitude machista. Seria uma espécie de neura - fazendo uso aqui da linguagem dos jovens. A língua portuguesa pode até ser elitista, mas machista eu tenho minhas dúvidas. se assim fosse não haveria a forma "dentista", substantivo uniforme, comum-de-dois gêneros e sim, "dentisto", para marcar o masculino, e dentista para o feminino. O fato é que na língua portuguesa existem os casos chamados de particípios ativos derivados de verbos. Por exemplo: o particípio ativo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, de cantar é cantante, de existir é existente e por ai vai. É a partir desses casos que extraímos a palavra ente, derivada do verbo ser, ou seja, ente é aquele que é. Quando dizemos que alguém é um “ente querido” estamos querendo dizer que essa pessoa tem entidade, é um ser querido.

Assim sendo, quando desejamos falar de alguém cuja ação é expressa por um verbo, adicionamos a uma raiz verbal os sufixos ANTE, ENTE ou INTE. Daí concluímos que a pessoa que preside é Presidente , independente do gênero ser masculino ou feminino. Assim como a pessoa que comanda é comandante  e a pessoa que estuda é estudante. Por outro lado, há que se entender que tais formas são padronizadas e não podemos definir outros modos como erro, haja vista que a forma feminina presidenta, adotada por Dilma, pode ser perfeitamente assumida. Lembremo-nos de que o feminino de elefante é elefanta e de parente é parenta. Tal forma causa estranheza, talvez, pelo fato da presidenta ser a primeira mulher no cargo máximo da nação brasileira, mas em outras nações a expressão já foi adotada., como, por exemplo, no Chile, na Argentina e Costa Rica. 
Contudo, na minha modesta opinião, acho denecessária, mas não errada, a forma feminina “presidenta”, pois já existe uma para nos referirmos àquele ou àquela que preside uma nação. Se tanto falamos em igualdade entre gêneros porque definirmos diferenças justamente onde não há necessidade? Isso me cheira a revanchismo. 

É isso.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Dica de leitura

 

O Apanhador no Campo de Centeio - J. D. SALINGUER


Ótima leitura. Narrador em primeira pessoa.

A visão de mundo de um garoto, Holden Caulfield, jovem de 17 anos vindo de uma família abastada de Nova York e prestes a ser expulso de um colégio tradicional na pensilvânia, após ter sido colocado lá pelos pais para viver em regime de internato. Holden, reprovado em quase todas as matérias, resolve voltar para casa mais cedo, no inverno. Em seu caminho de volta para casa ele passa a refletir sobre sua existência no mundo.  Mas antes de se defrontar com os pais, tentando encontrar uma diretriz para o seu futuro ou uma ideologia para viver, Caulfield resolve procurar as pessoas mais importantes para ele: um professor, uma antiga namorada e sua pequenina irmã, objetivando explicar a confusão que passa em sua cabeça.

O romance tem as características de uma crônica e é chamado por alguns críticos como "a crônica da juventude do século XX" e talvez ainda seja deste século. Destaque para a linguagem despojada e coloquial utilizada, além das tiradas irônicas da personagem em relação as atitudes das pessoas ao seu redor.

Título original: "THE CATCHER IN THE RYE"


J.D. Salinger, autor do famoso livro, morreu aos 91 anos de causas naturais em New Hampshire, Estados Unidos, em 28 de janeiro de 2010.

Curiosidade: Esse foi o livro encontrado com David Chapman, executor de John Lennon, quando capturado pela polícia.