segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A VIZINHA DO TERCEIRO ANDAR


 
Ela morava no terceiro e último andar daquele condomínio, onde cada andar comportava três apartamentos de três quartos. Não eram luxuosos, mas os ambientes eram espaçosos e requintados.
Aquela senhora vivia só e estranhamente era a única moradora daquele andar. Os apartamentos vizinhos ao dela estavam sempre vazios, apesar de despertarem o interesse de muita gente em alugá-los ou comprá-los, mas o que impedia parecia ser aquela senhora insuportavelmente arrogante.
O primeiro e segundo andares tinha as mesmas características do terceiro, a diferença era que aqueles estavam sempre ocupados e seus ocupantes eram totalmente displicentes, barulhentos e deveras inadimplentes, contudo eram bastante unidos em alguns aspectos, principalmente quando se tratava de falar da vizinha do terceiro andar. Que mulher insuportável era aquela senhora do último andar...
Os problemas no condomínio eram muitos: falta de pagamento das mensalidades, barulhos, infiltrações, animais de estimação e desrespeito às vagas de estacionamento, contudo as atenções estavam sempre voltadas para aquela vizinha do terceiro andar e seu ar de superioridade.
Aqueles que moravam no segundo andar eram “muito legais”, adoravam estar no piso imediatamente superior. A ideia de pisar naqueles que se encontravam no andar de baixo lhes davam um enorme prazer. Não se importavam com as reclamações dos vizinhos da parte de baixo, que eram torturados cotidianamente, principalmente no período noturno, em que os toc-toc dos benditos e perturbadores sapatos de salto alto de 500, 00, comprado em suaves prestações nas lojas Marisas, configuravam-se em uma verdadeira tortura psicológica. Mas apesar de toda a perturbação dos vizinhos do segundo andar, nada se comparava a arrogância daquela senhora do terceiro andar.
Pelo fato de ser a única naquele andar, não dividia o elevador com ninguém. Se o elevador estivesse ocupado ela esperava para que pudesse ficar sozinha. Nos primeiros dias as pessoas estranharam o comportamento da vizinha solitária do terceiro andar, mas depois passaram a ignorar e depois desprezar. Ao cruzar com as pessoas no estacionamento do prédio, ela virava o rosto para o outro lado e não respondia aos constantes bom dia e boa tarde dos vizinhos que já o fazia não mais por educação, e sim por pura ironia. O que incomodava de verdade era aquele ar de superioridade da vizinha do terceiro andar. Aquela mulher era realmente insuportável.
Certo dia, misteriosamente, a vizinha do terceiro andar não mais passou a ser vista no elevador, nem no estacionamento e muito menos no condomínio. Os primeiros dias foram um alívio para os moradores do primeiro e segundo andares mas após uma semana aquela arrogante senhora passou a incomodar não mais pela sua presença, mas pela ausência. Naquele ambiente não se falava em outra coisa que não fosse o desaparecimento da vizinha do terceiro andar.
Ela era a única que respeitava as regras do condomínio.
Giezzy