quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

EM QUE CREEM OS QUE NÃO CREEM?




N
o livro intitulado "Em que crêem os que não crêem", de Umberto Eco e Carlos Maria Martini (2011), ocorre um intenso e caloroso diálogo entre esses dois grandes pensadores. O primeiro era filósofo, escritor, crítico literário e "laico". O segundo é teólogo e cardeal da igreja católica romana. Os diálogos giram em torno da existência e invenção de Deus, dos fundamentos da ética, da mulher, do sacerdócio, da liberdade de escolha e de ações frente aos imperativos religiosos acerca do aborto, da engenharia genética, do respeito à vida, da ideia de fim na cultura laica e da existência ou não de uma noção de esperança comum a crentes e não crentes.
            Durante a leitura, detive-me um pouco nas palavras de Eco quando discorre sobre "ética". Para ele, a ética surge quando tomamos ciência do outro como ser-humano: "É o olhar do outro que nos define e nos forma. Nós não conseguimos compreender quem somos sem o olhar e a resposta do outro" (p. 83). Nesse sentido, estamos sempre em busca de reconhecimento e isso amplia a nossa autoestima.
            Segundo Eco (p. 83), na falta de reconhecimento um recém-nascido abandonado na floresta não se humanizaria ou, como Tarzan, buscaria o outro a qualquer custo no rosto de uma macaca:

Poderíamos morrer ou enlouquecer se vivêssemos em uma comunidade na qual, sistematicamente, todos tivessem decidido não nos olharem jamais ou comportassem-se como se não existíssemos. (p. 83).
            
            Essa é a tônica dos debates que podemos encontrar nesse livro. Uma verdadeira reflexão com liberdade dialética sobre valores humanos em um mundo cada vez mais "desumano".

Ótima leitura. Recomendo.