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o livro intitulado "Em que crêem os que não crêem", de
Umberto Eco e Carlos Maria Martini (2011), ocorre um intenso e caloroso diálogo
entre esses dois grandes pensadores. O primeiro era filósofo, escritor, crítico
literário e "laico". O segundo é teólogo e cardeal da igreja católica
romana. Os diálogos giram em torno da existência e invenção de Deus, dos
fundamentos da ética, da mulher, do sacerdócio, da liberdade de escolha e de
ações frente aos imperativos religiosos acerca do aborto, da engenharia genética, do
respeito à vida, da ideia de fim na cultura laica e da existência ou não de uma
noção de esperança comum a crentes e não crentes.
Durante
a leitura, detive-me um pouco nas palavras de Eco quando discorre sobre
"ética". Para ele, a ética surge quando tomamos ciência do outro como
ser-humano: "É o olhar do outro que nos define e
nos forma. Nós não conseguimos compreender quem somos sem o olhar e a resposta
do outro" (p.
83). Nesse sentido,
estamos sempre em busca de reconhecimento e isso amplia a nossa autoestima.
Segundo Eco (p. 83), na falta de reconhecimento um recém-nascido
abandonado na floresta não se humanizaria ou, como Tarzan, buscaria o outro a
qualquer custo no rosto de uma macaca:
Poderíamos morrer ou enlouquecer se
vivêssemos em uma comunidade na qual, sistematicamente, todos tivessem decidido
não nos olharem jamais ou comportassem-se como se não existíssemos. (p. 83).
Essa
é a tônica dos debates que podemos encontrar nesse livro. Uma verdadeira
reflexão com liberdade dialética sobre valores humanos em um mundo cada vez
mais "desumano".
Ótima leitura. Recomendo.